30 dezembro 2009

Multipersonalidades

Pessoas
conversam
no meu
pensamento.
E sequer
as entendo...
São vultos
despretenciosos
de outros
momentos.


Tempos modernos estes!

Ausente





A tuberculose era o poema
Há décadas
Numa
Determinada
Época preta e branca

E ainda se ouvem ruídos
das tosses remanecentes

29 dezembro 2009

Pontuações...

Ponto final abre novos caminhos
Seguimos pela linha do tempo
Cambaleando-se pelos mitos
Sozinhos; assim como nascemos!

O choro se despede à barriga
O medo retoma feito dor que não se acaba
Agora ao mundo vaga
Está ao consumado!Concebe-se nova vida!

Vírgulas, aspas e um consolo
Etapas duma vida curta
A nova página fatal.

Parêntese, interrogações natas!
Exclamações em maravilhada vista
Isto é vida, e três pontos no final.

14 novembro 2009

Sem título

Algum.
Sem previsibilidade.
Sem nome.
Sem a data
Pra não ter idade.
Simplesmente nada.
Apenas palavras com fome
Nadando por fontes
Que lhe indiquem o caminho.

Poemeto injuntivo

Faça como quiser
Qual será o resultado?
De um jeito qualquer
Faça!
E a coisa sairá (...)
Uma coisa qualquer.

Tempo Perdido

Sentia-me uma diva
Até que o conto virou
Clichê
De tanto esperar você
A noite virou dia.

Por vezes

Tantos cafés, tantos pães

Alguns alguéns

Algumas manhãs...

METÁFORA

Enquanto você se lambuza (me usa)

Eu me E N G A S G O

Com o caroço da fruta.

03 outubro 2009

Menino da rua




Há muito já não convinha culpar o mundo por sua inutilidade na sociedade. Conformado em sua própria escolha se limitava ao comando do destino: O azar dos dias ruins que ia dormir sem ter pego em dinheiro algum, com a barriga e o pensamento vazios. Ou a sorte dos dias bons: quando alguém concedia uns trocados pra lhe suprir a vontade de fumar, e se a fome incomodasse mais que o vício comprava um pão na esquina e sentia-se um pouco menos humano. O pão lhe causava a impressão de esmola, fazia-o lembrar que não tinha uma mesa para sentar e menos alguém para compartilhar a janta, saía porém com a sensação de dever comprido, ao menos por hora não se preocuparia em não morrer de fome, pechinchando apenas a nicotina.Caso alguém perguntasse o seu nome, embora hesitasse em dizer, não havia dúvida : “Pode me chamar de menino”.Teve que inventar o próprio nome e sem muito esforço escolheu aquele que ecoava em sua mente como única lembrança importante de sua mãe. Sempre suja, fumando cigarros vagabundos, passava pelas calçadas a esmo e chamava-o de menino. Mas ele saía indiferente a qualquer passado, sabia que não havia nenhuma estrela no céu que representasse os seus, aliás nem acreditava que tivesse um dia família, por isso sentia que era diferente e podia jurar que nasceu ao acaso, sem nenhum planejamento e nenhum riso que consolidasse uma nova vida. Assim como foi a morte de sua mãe, sem lágrima que representasse o fim ou a saudade. A solidão já estava escrita em seus versos, a tentativa de aproximação com alguém lhe causava tédio e náusea.Gostava de ser só, preferia assim. Tinha alguns amigos que vagavam pelos sinais da cidade. Na verdade trocava com estes momentos rápidos de prosa e aceitava também uma “roda de boca” era como chamavam a reunião para ingerir, por uma necessidade ideológica, algum tipo de “fuga da realidade”. Fumavam, bebiam, cheiravam por horas e ele apenas seguia o seu caminho sem rumo e sem pressa de chegar a canto algum. Roginho era o que mais confiava, era o único que se dava ao luxo de prolongar a presença. Certo dia, ambos tramaram um assalto, combinaram e se divertiram com as diversas possibilidades do erro, e até pensavam em desistir quando Menino ,amedrontado, falava em polícia, na perda da liberdade. Rogi era mais ousado e pretendia sair da miséria, tinha sonhos e confiava em si “Não merecemos tal situação! Isso não é justo! Onde está Deus agora? Eu vou roubar e não tenho culpa por isso!”. Era determinado e se especializou na vida fácil. Menino participou de algumas delas, mas não tinha a vocação. Numa tarde de quarta-feira sentou-se na parada de transporte coletivo e apanhou um jornal que voava pelo chão, no momento que abriu pôde se divertir sem constrangimento, não entendia o que estava escrito ali, mas havia algumas fotos e a sensação de ser um homem que lia um jornal em plena luz do dia era transformada em risos incontroláveis e inocentes. Menino ficou ali por um longo tempo, mesmo não percebendo não estava só: As pessoas acompanhavam com curiosidade àquela cena que não tinha nada demais.

Tardes Bucólicas




Nem somente quando estou sob efeito de alguma erva (mas também em momentos sóbrios), imagino certos detalhes da vida que de tão loucos, são bastante precisos. Impecáveis realizações da mente transformada em pura descrição da realidade.Toda percepção latente torna-se óbvia e perde a magia quando sai da idéia do pensamento para o fato em si.Naquelas tardes em que há forte vento e uma melancolia advinda das ruas vazias abordam a questão da própria existência, que logo associo ao pôr-do-sol de domingo. Quando o sol se despede da sua sensação bucólica, é chegada a hora de mergulhar no escuro iluminado da zona sul.Metrópole calma e solitária, o romantismo dos livros antigos se faz sentir nesse momento, e quase naturalmente o leva ao mundo “preto e branco” interiorano duma história que sequer viveu, a não ser pela leitura. São os últimos momentos do descanso já cansado do ócio, de pensar no dia posterior, onde a rotina dar as cartas e dita o dia bom e o dia mal.Certa vez estava numa dessas tardes bucólicas de domingo, apenas observando enquanto passava por uma reflexão de como não morrer de tédio. Era um condomínio fechado e três crianças brincavam despretensiosamente. Estavam calmas. A única menina parecia liderar o trio, cada um segurava uma vara de galho fino, enfiando-o delicadamente num buraco de formigueiro, esperavam a formiga apoiar-se no pau e a despejava numa garrafa plástica com areia dentro, construindo assim, um formigueiro próprio. A concentração daquelas crianças em realizar um objetivo tão simples despertou o questionamento acerca das atitudes, tantos conceitos complexos de grandes filósofos e tão inúteis quanto transferi um formigueiro de seu habitat natural para um artificial.Os homens pensam de forma artificial e nem mesmo as crianças escapam disso.Querem proibir, limitar e apontar espaços como preferirem, sem preocupar-se com a liberdade ou mesmo vontade do outro.Assim fazem com os pássaros na gaiola, e os peixes no aquário!Acendo um cigarro, velhas tardes de domingo nunca morrem, embora estejam mortas em vida, são sempre iguais: Pensamentos vagos, concentração dispersa, corpo cansado, ruas vazias, ventos barulhentos ao som das árvores mais experientes fazendo sinfonia junto às corujas e grilos.Lembro-me ainda de um grande amor. Nós debatíamos a respeito da atração dos opostos, será que são opostos? Se se atraem supõe que se completam, então não são opostos e sim complemento do outro.Assim, um músico de composições sempre recordativas, tem como consolo para seguir em frente à auto-afirmação do que foi um dia; e em outro de composições românticas é paradoxalmente sensíveis, tendo em vista um coração versátil que fácil se encanta e desencanta friamente.Mas o que isso tem haver com os opostos? São complementos que transmutam entre si, envolvem-se e as conseqüências são a troca de detalhes que restam do tempo: Só as lembranças, e destas apenas restam os ventos de uma tarde bucólica.

5 copos de bebida quente




Teodora chegou em sua casa já tarde. E embora estivesse tudo ao seu lugar, tudo parecia exageradamente novo. Havia saído de um próprio interesse consigo mesma. Fechou todas as portas, acendeu um cigarro que nem chegou a fumar, afinal havia prometido ao seu prometido não mais fumar naquele dia. Nesse momento não podia se descrever em fatos, era como se despretensiosamente respirasse sem pensar em absolutamente nada entendível. Deixava os segundo guiarem a consciência cansada de abstrações, de ousadias.Em algum momento olhou à hora. Passava da meia noite e decidiu que podia fumar, seria o primeiro cigarro do dia.Os tragos seriam bem aproveitados na tentativa de afirmar seu próprio charme, gostava de fumar mais por se sentir charmosa que por necessidade da nicotina. Lembrava o seu dia romântico. Teodora traíra (mas não precisava pensar por esse lado...nem queria), e como uma espécie de narrativa deitou-se no chão frio de seu quarto e tentou despejar no papel as sensações que lhe abarcavam o juízo, porém, sua letra saía ininteligível tanto quanto seus momentos recentes...Aquele telefonema... “Quando encontro os amigos?” poderia escrever durante toda a sua vida sem pausa alguma. Mas o que tinha a dizer? Já não se lembrava, o álcool determinava o momento do riso, o papo fluía... O sorriso...Os beijos cedidos por um instante eterno de beleza e prazer. O tapete de crochê incomodava-lhe as costas, os minutos passavam agradáveis e recordativos, lembrava daquele mesmo amor um dia não correspondido. Era feliz, sentia-se madura e feliz sim! O telefone agora tocava alto, tudo era percepção.Quem ligava? Quem cantava? Quem era ela? Lembrou-se de Caio Fernando Abreu; Machado de Assis e seus amigos comuns. Porque a relação destes? Já não importava, nada importava.Os questionamentos começavam a incomodar. Onde estavam os personagens? Estava escuro e ainda que não se importasse com a coerência dos fatos, sabia que tinha vivido tudo aquilo. Aquilo o quê? O som não dava trégua, o celular tocava e nem sabia se era viva de verdade. A cabeça doía. O sono lhe pesava os cinco copos de bebida quente. Não podia evitar o bocejo que prendia seu corpo contra o chão, a música...o cigarro entre os dedos já não tinha o que queimar...Olhos pesados, momentos... Vida...Música...Música... Chamada... Celular...música.S7

Paixão Infernal




Despertei assustado com um sonho medonho, abafei o grito e enxuguei o suor com o lençol, algo queria me atacar, não sei bem, não podia correr e nem gritar. Em segundos estava numa bela praia, pássaros cantavam como gente, eram músicas famosas, havia um rio que corria no meio do mar aberto, havia ainda uma grande cachoeira, e eu, estava relaxada, sozinha, contemplando a beleza daquele lugar sublime, por uma fração ligeira, voei, foi a sensação! Senti o vento em minha face, o corpo suspenso, os braços abertos, eu sorria... Sorria muito, de repente tive medo, olhei para o chão e pensei “se eu cair?”, no mesmo momento eu caí, uma queda tão profunda que não sentia minha pele, só a saliva que transcorria da boca, entrei no chão, foi uma queda comprida e boa até o momento de estar sentada numa cadeira grande, preta, meio velha e com uma pompa de Luiz XV; na minha frente havia uma cadeira igual, e sentada nela, estava o demônio, muito bonito, elegante e extremamente educado: - olá amiga! Bem vinda ao paraíso do fogo! Não havia ruídos ou qualquer barulho, o silêncio era absoluto, e fiquei fascinada pelo rapaz que se dizia Anjo do fogo. Olhei em seus olhos vivos, grandes e negros como a noite, e antes que pudesse piscar os olhos, ele puxou-me e beijou-me a boca levemente, senti o arrepio da paixão, um desespero quase infeliz! Apaixonara-me, e no auge da minha ternura, apareceu subitamente uma mulher irada, com sangue nos olhos, bastante enciumada, louca, queria me bater, e ela era eu! O seu rosto, oh!O seu rosto! Jamais esquecerei que me vi, ali, brigando comigo mesma, disputando a mesma pessoa, Lúcifer! Que loucura! E ela, (ou eu) puxou sua face como se fosse uma máscara, atrás daquilo apareceu outro rosto, reconheci imediatamente, continuava sendo eu, só que velha, velhíssima, as rugas não disfarçavam o pouco de cabelo branco que havia, a pele engilhada, e ela (eu velha e leprosa) puxou uma faca de dentro de sua garganta e correu para a minha direção, o demônio assistia a tudo rindo, gargalhava muito alto, estava realmente satisfeito, num eterno estado de êxtase.Ela cortou-me ao meio simetricamente, entretanto não sentia dor, somente o medo de olhar para ela, estranhamente eu! O diabo puxou um lado de mim, e tornou a beijar-me, foi esplêndido, mágico, caótico e tranqüilo; a velha pegou o outro lado de mim e quis engolir, porém despertei assustado, com um sonho medonho, abafei o grito e enxuguei o suor com o lençol.

P Ney Kelson!

Tu que sempre buscou
A verdade
Numa roda de amigos
Falavas tão conciso
Tuas Palavras!
Firme era teu olhar
Tão doce era teu olhar...
Tantas tardes procuramos...
Tantas luas observamos
Atrás de descobrir as
Verdades do mundo
Das pessoas
De tudo.
Aonde andas amigo?
Aonde anda tuas idéias bíblicas
Teus passos longos
Teu abraço!
Teu abraço...
E teu sorriso de goiaba?
Tão verdadeiro, tão doce
Como eras tu
Tão surreal como tua
Verdade
Nossa amizade
Minha saudade

31 agosto 2009

Calçadas Doutros Tempos


As calçadas doutros tempos

Guardavam folhas caídas

Do último outono.

Habitavam-se o silêncio sombrio

E uma pesada luz artificial

Advinda da primeira amostra

De eletricidade que rompera a escuridão.



Juras foram quebradas

Aos amores verdadeiros; e novas
Fez-se por amantes

Medrosos e apaixonados.

Porém, dos brancos bancos

Nada restaram... Netos e bisnetos

Escrevem agora a nova geração.



O relógio pára... Mas o tempo

Mostra-se cada vez mais veloz!

As calçadas doutros tempos

Sustentam-se em memórias

Mórbidas.

A mim já basta! O sol renasce

E faz perceber que é chegado

O verão.



Shauara David/Kaliane Araújo

Liberdade e Repugnância

Batia desesperadamente na porta marron e estreita, Paulo acabara de fazer o mais ridículo de seus comentários, poderia ter ficado no mesmo casual, mas a promessa feita de nada esconder um ao outro, já lhe pesara demais a cabeça. Sônia, tranqüila, continuava trancada no banheiro sem nenhuma culpa a lhe pesar a atitude, ao contrário, sentia-se incompreensivelmente triunfante! Ele batia.Ela sorria, indiferente e fria.Algum rancor completava o coração da mulher que apesar de ter traído muito, jamais admitira que não fora amor. Durante muito tempo podiam jurar morte pela vida do outro, e ainda assim a própria morte cegavam neles um desejo infantil de estarem juntos eternamente, era um sentimento insano, de posse e carinho com gosto de séculos passados, como se pudessem ter sido todos os casais apaixonados ao mesmo tempo.Sussurravam juras, fizeram-se promessas e o amor se fez um só, por noites e noites, onde os corpos se fundiam; e com a mesma intensidade, se beijavam loucamente, entrelaçavam as línguas doentes por uma vida tardia, um desejo sem dor. Tic tac...os minutos passavam....Toc Toc....Quase derrubava a porta por desespero de consciência, Paulo precisa questionar que, embora tivesse beijado outra, não havia traído, havia sentido uma repulsa pelo maldito beijo e ao mesmo tempo uma incrível sensação de desprezo pelo próprio ato, como se liberdade e repugnância fossem uma só. Sabia ele, terminaria só; os amigos tentou evitar desde de quando firmou um certo medo por Sônia, desde de quando ela passou a manipular sua instintiva voracidade masculina, as amigas, nem mencionarei! Até sentia falta das segundas intenções que lhe eram proporcionadas nas mesas com estas. Inclusive, mulher é o cão! Como elas podiam perceber o perigo?Sônia tinha o dom de descobrir exatamente quem eram as mulheres que lhe cobiçavam o marido.Embora ele achasse chato, admirava muito essa percepção de sua mulher. Esta, traída, era satisfeita, tinha o seu homem a aclamar-lhe a atenção e ainda sua consciência de beijos cedidos, a outros homens, diminuída. Sentia-se dona da situação.E era. A porta rangia. Ouviam-se gritos loucos de alguém que desejava voltar ao tempo...Porém, Paulo não se arrependia, também era dono da situação e faria tudo novamente se oportunidade tivesse.E fizeram.

14 agosto 2009

Poeira do passado

Escrevi-te na minha solidão
Pra mentir a tristeza
Que não houve paixão, que morreu
O amor.
Trancei-te entre meus dedos
E não vi o cigarro queimar
Junto à fumaça; nossas tralhas
Guardadas na poeira do passado
As toalhas bordadas ainda uso
Uma vez mais roçar no teu corpo
Teu cheiro sujo.
Que abandono no próximo banho
E perfume.
Guardei-te por anos... Hoje os planos
Mudaram
A vitrola não tocou as músicas
Que amaram junto a nós
Permanece no quadro a pintura
Tua
Marcado a texto no branco
Da moldura
O abismo de nossa incerteza
Tua vida boêmia, teus risos estúpidos.

13 agosto 2009

Carta de um suicidada








Fui suicidada pela minha família, por mim mesma, pelo meu signo, pelo meu número. O próprio mundo se modificou com a finalidade de provocar um paradoxo na minha vida: Na medida em que ia aprendendo a amar, fui sendo “expulsa dos grupos comuns” e individualizando uma essência que talvez nem fosse minha. Sou somente uma criatura banal de um projeto infeliz, mas não acho que tenha sido tão ruim assim...Pois embora sinta várias mãos a acalentarem meu desejo, nenhuma delas me empurra de forma que ascenda e acenda um brilho oculto de abismo. Ou seja, não há quem me tenha impulsionado a forca,ou ao veneno, sabe? A própria lucidez trata disso.
A espera é inútil e preguiçosa. O tempo não me alcança, não me convém. Os ouvidos já cansaram de infortúnios alheios, não sou mais eu. Nunca o fui.Pois cabalisticamente fui descrita em versos, incompreensíveis palavras que tentam, ainda que efêmero, o impossível. Abarcam minha infância difundindo risos e lágrimas. Sempre infiel, sempre amando, sempre distraindo, sempre envolvente. Não mais que envolvente.Não mais que envolvente. Um pouco mais mecânico que isso, um tanto mais sobrenatural.
Sou envolvida por isso também, e ainda mais pela frieza que desinteressa em mim.E começo a duvidar da existência da culpa. Se tudo é explicado (ou ao menos uma incessante tentativa) ela nunca será a todos atribuída pela minha morte,inclusive em algumas pessoas que me foram mais fortes na história.Já não agüento mais tudo isso. Todas essas formas de informar, de dá satisfação sobre meu ato, minha dor. Já não sinto dor, ela é me é instalada ao juízo. Fui suicidada por toda essa baboseira, e de tão inútil é a força geral que ainda permaneço viva.

12 agosto 2009

O quarto (e eu)






Meu quarto está escuro. Falhou a luz que há tempos anunciava a velhice. À luz de velas escrevo agora. Com um grito que só silencia porque me convenço que viver é enfim bom. Os olhos ardem junto ao corpo meio sem força e descansado. Não sou personagem, não possuo nome e nem identidade. É sempre melhor ausentar-se das responsabilidades quando não se carrega um nome.
É noite adentro e só vejo meus olhos pesados e livres, que me olham assustados e pedem mais um trago. E trago. Trago ao vivo e sopro simultâneo aos dedos deslizando sobre a tinta que discorre em palavras. Estas que não dizem nada. Aliás, os meus olhos me dizem que tenho medo de mim e por isso me atraio por mim mesma.
Gosto do medo, gosto da atração... Ambos são desafios relativamente fáceis e de gostosa execução. O cachorro brinca querendo chamar atenção, e quase no instante em que o ignoro penso que um dia não o terei por perto. Desapego o caderno e vou dedicar carinho ao que me pede. Em pouco ele está satisfeito e volto ao meu mundo iluminado apenas por uma vela. As sombras que envolvem os móveis ficam mais visíveis. O foco é outro. Não há foco. Não há precisão. Não há futuro e nem passado. O quarto anda amarelado e eu só. O quarto pesado e eu vazia. O quarto grande e eu sem espaço para fugir. O quarto lento e eu agitada por uma náusea inexplicável. O quarto aqui e eu também, sem pensar em longas caminhadas; em barros na sandália e sem vontade de dormir.

04 agosto 2009

Vertigens do último andar







A tua sombra persegue
Mas não anda
Desmancha-se ao menor vestígio
De fidelidade
Perde-se sempre no mesmo caminho
E volta quando cansa; faz seu ninho
Em casa... Falsa felicidade!

Teu corpo não é concreto, não é alma
É mesmo sombra que sobra
Das vertigens e implora a morte
E por sorte te escapa ao trauma
Pois tua sombra é minha marca
Que não maltrata ao saltar do
Último andar
Apenas descansa essa vontade
Que me mata.


Lá pras tantas





A noite ofusca e dorme os outros
A mim confunde falhas
Informa fatos
Embanana palavras
Difunde idéias, trapos, nomes
de carros.
Já não sei quem sou...
Não durmo. Observo
Não ensurdeço. Alerto!
Não canso, mas também não deito
Escrevo.
Sob luz, é claro!
Lá fora... Ouça:
(o silêncio do escuro)
Agora chove;
E permaneço inerte aos latidos
dos cachorros.

A noite bifurca
E meu pouco riso se desfaz em prantos
A
o
s
p
o
u
c
o
s
Roncos que escuto.

Poema Intimista




Um sarcasmo, um band-aid
E um bom cigarro vermelho
Numa mesa de bar; todos
Concordam com o mesmo mundo
Dependendo das circunstâncias
Mudam os planos de percepção.
Um marasmo, uma ferida!
E uma conversa que não chega
a lugar nenhum
Somos todos da mesma opinião
Depende do orgulho, do trauma
E o que salva são os goles
Os porres efêmeros, tudo é o fim!
Não só a globo, não só a TV
E sua decadência;
Mas toda demência que há nos banheiros...
Uma vontade de cuspir, o não fazer
E nas lembranças trago alguém
Que passa o tempo e nunca vem.
Da ausência, um verdadeiro tormento
Um fardo! Um mero momento
Um ato autêntico e só!
Um passo e um vulto
Me vendo.

Assim Seja!





Fiz uma carta de despedida
Raivosa, destemida!
Escrevi horrores, malditas
Palavras
Deixa!
Não foi isso que quis
Mas se o destino
Quer assim,
Que assim seja.

Balé, Passos em Escritos






(Tem coisas que penso
e não escrevo, há outras que nem sei
se penso e acabo escrevendo...)
Como se a escrita me tomasse pela mão
E dissesse: Escreve em versos!
Cochichando em meu ouvido
Fosse conduzindo o poema
Com cautela e compromisso
Esquiando com facilidade
e sem maiores barreiras!
Apenas dançando magicamente
Em outras existências...

Tem tantas coisas... Mas me encolho
Me belisco!
É verdade?!?? Já não arrisco
E me escondo, não percebo...
Mas ela volta e me toma pela mão
Delicadamente contornando sua doçura
Em meus dedos...
Acariciando meus nervos a calma
De uma nova dança.

VESTÍGIOS DE CRIME




Um brega.
Roupas espalhadas
Porta entreaberta
Vinho
Flores...

E o silêncio cansado dos gritos
anteriores.

Poema Contemporâneo






É poema pequeno!
Faz parte da idade
Nova era.
Antes eram folhas e tintas
Hoje basta na mesa
Uma pinga
E já era...
Fez-se um poema.