03 outubro 2009

Tardes Bucólicas




Nem somente quando estou sob efeito de alguma erva (mas também em momentos sóbrios), imagino certos detalhes da vida que de tão loucos, são bastante precisos. Impecáveis realizações da mente transformada em pura descrição da realidade.Toda percepção latente torna-se óbvia e perde a magia quando sai da idéia do pensamento para o fato em si.Naquelas tardes em que há forte vento e uma melancolia advinda das ruas vazias abordam a questão da própria existência, que logo associo ao pôr-do-sol de domingo. Quando o sol se despede da sua sensação bucólica, é chegada a hora de mergulhar no escuro iluminado da zona sul.Metrópole calma e solitária, o romantismo dos livros antigos se faz sentir nesse momento, e quase naturalmente o leva ao mundo “preto e branco” interiorano duma história que sequer viveu, a não ser pela leitura. São os últimos momentos do descanso já cansado do ócio, de pensar no dia posterior, onde a rotina dar as cartas e dita o dia bom e o dia mal.Certa vez estava numa dessas tardes bucólicas de domingo, apenas observando enquanto passava por uma reflexão de como não morrer de tédio. Era um condomínio fechado e três crianças brincavam despretensiosamente. Estavam calmas. A única menina parecia liderar o trio, cada um segurava uma vara de galho fino, enfiando-o delicadamente num buraco de formigueiro, esperavam a formiga apoiar-se no pau e a despejava numa garrafa plástica com areia dentro, construindo assim, um formigueiro próprio. A concentração daquelas crianças em realizar um objetivo tão simples despertou o questionamento acerca das atitudes, tantos conceitos complexos de grandes filósofos e tão inúteis quanto transferi um formigueiro de seu habitat natural para um artificial.Os homens pensam de forma artificial e nem mesmo as crianças escapam disso.Querem proibir, limitar e apontar espaços como preferirem, sem preocupar-se com a liberdade ou mesmo vontade do outro.Assim fazem com os pássaros na gaiola, e os peixes no aquário!Acendo um cigarro, velhas tardes de domingo nunca morrem, embora estejam mortas em vida, são sempre iguais: Pensamentos vagos, concentração dispersa, corpo cansado, ruas vazias, ventos barulhentos ao som das árvores mais experientes fazendo sinfonia junto às corujas e grilos.Lembro-me ainda de um grande amor. Nós debatíamos a respeito da atração dos opostos, será que são opostos? Se se atraem supõe que se completam, então não são opostos e sim complemento do outro.Assim, um músico de composições sempre recordativas, tem como consolo para seguir em frente à auto-afirmação do que foi um dia; e em outro de composições românticas é paradoxalmente sensíveis, tendo em vista um coração versátil que fácil se encanta e desencanta friamente.Mas o que isso tem haver com os opostos? São complementos que transmutam entre si, envolvem-se e as conseqüências são a troca de detalhes que restam do tempo: Só as lembranças, e destas apenas restam os ventos de uma tarde bucólica.

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