07 junho 2010

Nóssss


Faces
















Em Tempos de Sombras e Cores







Se estivéssemos em outros tempos
Ainda haveria Caravaggio com seu naturalismo exacerbado
(reagindo face ao idealismo renascentista)
Haveria uma fotografia minha
Nas páginas escondidas da biblioteca
E nos muros pichados das cidadelas
Onde a vista contempla dor,
Uma válvula seria escape dessa falta
O rosto estagnado, intacto de sorriso!


Em novos nomes, haveria um risco
Revés ao campo lúcido, embora enlouquecido,
Silenciado ao passo das nuvens
Denunciado pelos sofismas, tropeços de neologismos
Seguido firme em linhas inconstantes
Feito tiros no câncer, noites altas!
Pelas sombras, um pensador sozinho
O tenebrismo embriagado e, no entanto Picasso;
Nas fases das cores; Azul e Rosa
Marginaliza e poetiza tempo/nada
Porque nada lhe sobra da rosa/tempo!

Flores sobre o piano





Volto ao poema porque uma página me resta
Como se houvesse flores sobre o piano
Lirismo absoluto! Lentamente
Uma música acompanha dando às “bossas”
Boas novas de um lugar perceptivo
Pudera! Depois de tempos de sofisma
Isolado, é suspeito uma estaca de espinho.

Volto à poesia porque ela não me abandona
Como se houvesse rumores no silêncio
Concentração e vício! Novamente
Uma voz dentro de mim emana
Ecoa “personagens companhia”
Quem dera! O intento de ser sozinho
É o trote que engana e deixa mancha
No piano com um copo de vinho.

Singularidades





Quando a alma está tranqüila
Tudo ao redor parece ter um significado especial
Como uma tarde que desponta
Traz o aconchego e ameniza o calor
Escurece a vista e se transforma em luz,
vento, fonte lilás...

Adere então nova força; uma lupa!
E os pequenos detalhes percebidos
De tão bem apurados, escapa um riso
Um riso sem sarcasmo, sem orgulho
Simplesmente de conforto e conformidade
E os momentos se ajuntam em singularidades
Feito chuva surpresa
Ao primeiro Instante que acorda
Sem deixar de perceber o sono
Ainda mais preguiçoso e completo.
Isento de qualquer vestígio de perturbação;

Vulgo inspiração, os sonhos dançam ímpares...

Castelo de areia





Vesti-me com suas roupas
(que por acaso deixaste do jogo
cheirando a suor talhado)
Como pra fingir intimidade
Busquei cumplicidade nas palavras
Pra ainda mais me senti você.
Forçando um amor que pouco amadurecia
E como num filme, uma vida passou num dia
Começo confuso, porém sem dispensar
O final feliz. Como em conto de fadas
A magia forjou o momento
E de certa forma o criou...

Às vezes a ilusão vale à pena
Outras, ao contrário, pede licença
Ao coração e seus princípios
Daí a razão perde a esperança de razão
E por ventura, o castelo volta a ser construído
Com perdas, danos e pouca força
Porém, mais astuto, experiente e menos paciente
E adepto de calar-se diante novos erros.

Mas se o erro é intrínseco ao ser humano
O que faço eu com tuas roupas?

Simulacro





Complexamente humanos
Fomos (nos) tornando os nossos mundos
Criados pelo costume social, medo e leis
Movendo rumo aos melhores planos
Mas como sonho não é feito de cimento
E nem pensamento de células
É através dos sentidos sem sentidos
Que descobrimos a razão de nossos desejos.

O simulacro personifica quantos mitos? Quantas almas?
E quem é isento de carência?
Conflitos, quantos indecisos! Imaturos...
Outros surtam por falta de absurdo
Pois toda loucura é válida se original
Mas o mundo já não dá conta, é preciso mais...
Questionar não convence, não vinga
Analgésicos, drogas, dinheiro... Nada alivia.

A hipocrisia ronda a estampa dos lençóis
Nas fotos, em “grandes comunidades”
Mas ainda assim, volto ao pó.
Espero só. Tarda, falha e me convenço!
O punhado é um pedaço significativo
Um santo graal das amarras de nosso santo
tempo.