29 julho 2011

Estado líquido



Engraçado,meu passado líquido arrasta
das ruas em que brinquei aquilo que
ousei observar até conseguir ser :
A estrutura das pedras, o peso da rua;
A vizinhança, em sua mais nobre penitência!
As folhinhas nascidas no concreto,
avivam um fascínio e curiosidade mútua
A vida das bonecas soa em vã inocência...

O jardim abandonado, esconderijo do bairro
Os animais ignorados, noturnos gatos
No mais, fui me sendo, deixando de o ser
Construindo mundos, debatendo a leitura
Invadindo os pensamentos ao “ver”
seus mais inusitados personagens;
varrendo dos espelhos as cenas, de forma que preservada
minha solidão, pudesse me mover;

Esticando a pele, desenvolvo as paranóias sociais
Abuso de seus medos, e coisas ilícitas
Girando no carrossel de possibilidades
Atrapalhado pelo fim de cada escolha
Como se o mundo me rendesse o dia
E fosse patético meu ser, a parte aos vivos.

Não me digo em desperdício zero
Pois sobre meu teto chove quando quero.

28 julho 2011

O Poema dele




Em teu ataúde o encanto do belo mestiço
adormecido, canto calado, mas ouvido.
As mãos juntas em oração silenciosa
travam o fim. Aos vinte e sete
foi esgotado o dia, enquanto ontem
vivia sofregamente através da
conquista do sétimo sentido, daí
tornasse veraz o teu caminhar distinto.

Coube na impiedosa lamúria dos choros
O alarde inexplicável da impotência
Tu em minha frente sem vida
levava também a minha, e isso não foi concreto
por que de nada mais precisamos!
Além dos sentimentos que criamos
os campos vastos nos abrigam...

A agonia torna real tua imagem
vontade alimentada pelo que passou
(com restrições dos fatos)
Essa ausência hoje é tua presença
verde e branca. Casta, cruelmente casta!
Vitrificada no perdão de nossos pecados
Enfim, somos livres! Sem atrasos de segundo
A sós nas horas, sem os fardos do mundo.

25 julho 2011

A cura: um relato sobre a cannabis (legendado)

Gentes




As explicações que inventamos são como espectros
Junto às pessoas que partiram
Acumulam nomes, estórias, biografias
Invenções, tragédias, personagens
Enfim o cansaço é inevitável:
Quanto trabalho já construiu o homem!
casas, livros, pistas
monumentos, ícones, discos
lendas, danças, teses...
Sendo criado o mundo em fim iminência
Vai multiplicando as gentes;

Fazendo sentir cada vez menos, mais perdida
Uma humanidade carente tanto mais gente abriga
Incontáveis pessoas!
Reconhecida minha insignificância
A cabeça conflita pelo buraco negro
A imensidão universal nos engole!
Vai multiplicando as gentes...
Resta-me ser como o piso antigo de uma casa grande
Esmagado aos passos lentos de longos anos;
E vão surgindo mais...

Infinitamente!

20 julho 2011

O pico e a neblina




Há uma ventania individual que derruba
os ventos coletivos, mal posso concordar
Mas o espaço me tem:
O corpo emprestado;
só as coisas da alma me interessam.
sou “anti-hipocrisia”
incomoda a burrice alheia
não gosto do calor nem de polícia
Também não quis nascer,
e por isso tanta tristeza,
essa vida sem respostas e sem porquês...

O circulo vital quase se fecha
Completando a rotação da incompetência
Pois ainda persiste uma disputa
silenciosa e inútil, a guerra fria
A inconcebível hierarquia de raças,
o apartheid. Cores são cores
completam-se em beleza, vejam!
A aurora boreal dança misteriosamente
Sem que pertença ao mundo carnal
Esse mesmo mundo, que anda em mim
Não como o palhaço ao circo
Mas como o pico distante à neblina.