15 março 2010

Não posso fazer poemas de amor






Às vezes também o amei...
Em certas praias sentia frio e o abraçava
Outras tardes enquanto caminhava
E o céu já anunciava aos poucos, o escurecer
Pensava e sutilmente sorria:
Não posso fazer poemas de amor!

A natureza me confidenciou outra realidade
As praças de encontros marcados
(quando não inusitados)
Traz a triste graça de amores novos,
Porém não posso escrevê-los!

Mas devo crer que ainda o amei:
Em portos de despedidas e chegadas;
Bares de conversas e cantadas;
Em casas floridas e bem perfumadas;
Por todos os erros que acertei.

Às vezes lembro que também o amei!
Mas sei que não devo mais!
Devo guardar os mórbidos domingos
Não fazer poemas com cheiro de flores vermelhas
Em noites de chuvas e mimos.

Estranha Eu





Às vezes me dou ao luxo de poder
ser estanha Eu;
Deitar na rua, ao fim da tarde
Sob olhares, vulgarmente equivocados,
Enquanto os meus inquietos
Admirando a companhia dos pássaros
Compartilham o espaço com as frespas
Árvores, galhos finos, folhas secas.

Às vezes encosto só e converso com o vento
Nada sobrenatural! Ao contrário;
Sobre os homens meu segredo:
Meu medo se escondeu nas costelas
Dentro de um órgão vital
porém não dói, nem faz mal.
Aos poucos retém substâncias nocivas
Jamais devolvidas ao seu habitat
natural.

Assim supus (palavra esquisita não muda de trás pra frente!)
Que se é como se é; não faz diferença!
É um luxo que não dispensa o lixo
Ou o visto de aprovação às regras
E difere o que se refere ao campo da mente.

Os complexos mundos de cada um ser extra
Astro
bicho
mundo
tempo
inter
Terra.

07 março 2010

Mãe;





Sei que desgostosa receberá o poema
Devo fugir do clichê e te dizer
‘ que não há apesar de tudo ‘
Sofro sem poder e devo te dar adeus!

Perdi-me dos afagos que costumo ouvir
Por aí.
Bebi em todos os bares que conheci
Provei das mais ilícitas drogas
Chorei pelo bairro, de porta em porta
E quando te ouvi chamar, me escondi.

Estranhei viver tanto tempo
Já que no meu nascimento
Foi-me dito a forca, por falta de sangue
E quase sem nome fui me adaptando ao berço...

E vejo que podiam ter me banhado em sal
Numa sexta chuvosa acompanhada de reza
Para me tirar as falhas da alma
As chagas do corpo e as estranhezas.

Perdão mãe, mas devo fugir do destino
Feito peregrino, sem lembranças...
Apenas das andanças que fazem calos
Amigos e as histórias do caminho.

01 março 2010

Meias verdades






Sigo passos firmes pelo corredor
frio, escuro
Há algo perdido no canto, iluminando...
Uma bela lamparina que dá luz
sombra e medo.
Sensações fúnebres, por ironia, sem tempo
De descobrir tradições passadas
Coisas de alma, crença e assombração

O retângulo tem um fim incoerente
Acumulado e emergido de outros pés
Rastros invisíveis; envolventes
Fazem-se recentes, mesmo perdidos
em devaneios surdos.
O cúmulo as tantas histórias queimadas!
Verdades transformadas em cinzas
pingos de chuva e areia.

Por fim existe sempre explicação
A nós; por sorte, isenta.

Estação dos gatos



Está tudo turvo, meio alaranjado
Meio fim de tarde de Outono
Descansado como o gato que se
escora no muro.
Estica de preguiça, quase um anjo!
Santo plano de Deus, o frio...
O banho de rio, o rebanho, o claro e
o escuro.

Meus óculos andam arranhados
E nem posso acertar o caminho
De volta. O gato mal me olha
E lentamente desce as pálpebras
É fim de tarde de Outono
Penso que devia haver outra estação
Onde multiplicasse desses bichos
Insanos e cheios de enigmas.

Não há jeito... Quase não suportam gatos
Mas sou exceção em cada uma
das sete vidas.

Erro nas linhas





Dos livros que li, de tudo que participei
Esta foi a história mais triste que conheci:
A mãe me olhando
Meio a poeira do destino
Tantas mágoas e desentendimentos!
Fui morrendo aos poucos, fazendo poemas
Pra abstrair os fatos e meramente fugir!

Dos hospitais que visitei; as chagas que contraí
Minha bronquite vale o respeito
E o perdão dos goles que traguei
Mas não perdoei a todos
Por terem me feito nascer!
Embora os risos sedentos
O monte de erros e momentos
bons...
Na minha história morri
Das mais tristes delas
Que conheci.