27 julho 2010

Síndrome do Pânico





Ambiente inóspito. Chão frio.
Alguém espirra. A torneira pinga e esse silêncio
ainda mais incomoda
inútil me enganar. Estou só.
penso no peso do âmago do que penso
e um amálgama de incertezas se joga no sossego
mais que um desespero
vejo-me afogando, sufocando em dúvidas;
infinito medo.
Daí toda vontade e alegria passam a hibernar
como um verão agonizante e sem fim.

Nasce outro novo medo: do clichê!
mal consigo andar, me mover, mal posso respirar
as paredes me comprimem com indiferença,
as almas deixam o ar rarefeito
O peito aperta. Bronquite
O cabelo embola nos dedos. Alopecia
O ar falta. Claustrofobia
Os ossos vacilam;
Tendinite, bursite, artrite, e pra quebrar os “ite”
O câncer.

Tapo os ouvidos pra não ver no que me transformarei
Todos morreram; objetos, sentimentos, conclusões...
Enquanto dramática presa no pesadelo
Invento lesões corporais. Domino o medo. Respiro. Equilibro
Tortura. Tensão. O mundo se torna grande e me perco
O mundo se torna pequeno e me engasgo
Ao inexplicável doce amargo medo
De me encontrar súbito em meu próprio pensamento.

Shauara David


(des)Encontros






A vida quase não passa
de sua estabilidade
eterna temporária...
E de repente,
num
piscar
de

olhos

mil coisas acontecem
Entopem-se pelo ralo
do banheiro...

Revoltam-se de vestígios mortos
como morta estou agora.

Aviso: Não há ‘filminho’ dos melhores momentos
na memória,
Não há túnel de luz, nem anjo à espera
na porta..

nem choro ou ranger de dentes...
Apenas um descanso incalculável
Um estrago dilacerado de dor, porém sem a dor
desconcertante de tropeçar pela multidão mascarada
nas ruas tão bem calçadas! Exceto por alguns abandonados
descalços e sem alma!
E daí que nos encontremos? Pra quem sabe,
Uma volta calma na cidade noturna;
Um chá na esquina,
Um bar, uma bebida... e a benção ignorada de sermos,
ao menos uma vez, pássaros...

Denúncia generalizada






As palavras escritas me matam
Não de uma forma comum
Como um prego perfurando a pele,
os olhos, os sabores...
A arte há de ser quase tudo!
Embora não sirva a nada, essencial( )
Definida(mente) as mal-construídas...
Rimas acuadamente enganadas pela pobreza!
Falta base. Desmorona
Falta êxtase, envolvimento. Entedia
retoma a
Leitura através de uma tortura silenciosa.

a agonia se faz inteira, a esperar a próxima página
Nada.
Estalo os dedos e para meu desespero falta 1.100 palavras
Dessas mesmas, tiradas do ralo podre, sem precedentes
Ratos, baratas e tinta.

Asilo aos meus escritos, vivos inertes
Sentenciados à poeira, caixotes velhos, ação das aranhas
Sob suas teias rígidas e frágeis
Algo acontece pateticamente
mais inútil e poético.

Mudanças





A quebra da bolsa de valores foi em outros tempos
Pudera.
Outros valores em alta
nos tempos de moda
bolsas novas,
Um fio de cabelo dentro do livro
Um tiro.

E tudo muda.

01 julho 2010

As horas absurdas





A nau traga junto ao leito dos abandonos
Seus vícios insanos, as tarjas de pranto
Alimentam os mares e por um engano qualquer
Trafegam à segurança da loucura e do tédio.
Creio que entrará alguém pela porta perdida
(Trazendo um candelabro pomposo, relíquia arruinada pelo novo)
E então, chorará pelo tempo perdido;
Engolido pelos leões e outros signos
Cravando em Pessoa suas tantas outras pessoas...
Soam passos! Ouço gritos e o relógio avisa:
A vida não deixa sobra e sobra tempo
Exilado em fatos inconstantes e confusos, como sou agora
A transitar pelos portos, pelos leitos das infinitas verdades
Tudo está em ruínas e os palácios sumiram
Talvez nem tenham existido. Como as cidades;
Ruídos da inquietude, da ganância inata
Somos sós, nas horas das horas das horas das horas...

Quem sabe se no fundo da caverna não há abrigo?
Quase intacto pela dizimação externa
Voam pernas apressadas, sem chão inteiro
Contentam-se em mostrar que ao menos entendem
Que estão a salvo, por um momento inseguro.
Precisamos dessa filosofia, embora seja inútil o pensamento
Vago e distante como ilhas e desertos
Fico deserta e sigo fingindo medos, atrasando desencontros
Mas no momento preciso dou um giro
A árvore cai, cai a chuva vertical e o vaga lume ilumina
Cá dentro, só descanso de uma longa caminhada...

O desespero só ensurdece e cega, nega a si a próxima etapa
Um corpo entorpece e desmorona
Quem se importa que nesta escura multidão
Uma estrela esteja morta e ainda brilhe?
Exibe a confirmação: loucura e lucidez são a mesma
Terna certeza simulada pelo inverso...
Agora peço que enriqueça a alma, aturdida e
Tão inabstrata quanto à sétima empatia dos que se atraem,
O que explicaria os céus a um ser inofensivo?
Que as pedras não passam de objetos naturais
E os pássaros obras ainda mais divinas?
Quanto ao homem foram inventadas as horas...
Dentro do fruto proibido, desde então
Rachamos o espelho, numa manhã estranha
E vivemos claustrofóbicos, sem saber de nós.

Eu e você nessa solidão...





Dentro de mim há um mundo de temporal
Mas você está ausente e ao meu lado
Faz perguntas que logo devolvo em metáforas
E outras subjetividades... sigo sem saber
Se essa solidão escura e fria é azar ou sorte.