29 outubro 2010

Nossa valsa, nosso amor




Nós dois dançamos em descompasso
Embora seja falsa a metáfora e esteja
a valsa a caminhar nas ondas
À luz de velas e em noite de luar
...tropeçamos os pés;
Embaralhamos os passos pelos extremos:
Um depressa demais;
E o outro perdido e pálido,
Meio a um imenso salão escorregadio.

Passada a ilusão de platéia e luzes
Somos “a sós” e sem assunto
Como estranhos siameses em continua
adaptação e estranhamento...

A valsa só existe aqui, conosco
embalados de glória e raiva;
Pouco preocupados com a melodia
Que traspassa nosso beijo manchado
E marcha na ilusão de mais um dia.

Flor da Paixão





"A flor é o mistério único das flores...
formou a natureza como um teatro
dos mistérios da redenção do mundo”
A trepadeira foi criada por Deus
(roxo, branco, estranha maravilha!)
Para perpetuar a lembrança do sacrifício do calvário
Com os instrumentos da Paixão de Cristo:
Coroa, açoites, cravos, chagas...
A esta por isso é conhecida ‘ paixão’
ou comumente;

Maracujá para encher a cuia dos nativos
fazer doce, remédio, chá, suco... Trazer a Paz!
Iluminada graça; branda e nobre alma
caminha calma ao coração...
Pois enquanto Ele findava na cruz
Seu sangue descia a madeira para fundir o solo
Vingou aquela que não possuía virtude
Tornou-a de poderosa beleza!

A passiflora vive e morre com o sol
Mas quando nascido ele,
volta a ostentar aos olhos;
o cheiro, o brilho
e encanto!

O lustre




Tem um lustre no teto do meu quarto
que me cega
Assim como os conflitos que tenho visto
participado e debatido
me deprimem.
A luz incomoda. Mas é no escuro que o monstro me volta:
A dramaticidade das teias sob a sombra
O tempo esquisito soa pelo fim da tarde
Os raros que me são caros
Queimam os excedentes estocados
na casinha de cachorro do quintal.

No varal, a roupa continua participante/ativa
O sol choca! Perde-se na solidão escura e fria...
E eu, fina, desmancho os planos sociais
Mas não faz mal nem engorda
Vivo no casulo observando um lustre
que aquece meu nada
A coisa passa a não ser nem ruim, nem boa

Como a vida, que continua exatamente
essa mesma pessoa.

À espera...




O temporal cai, mas na minha janela
Só há um forte vento gelado
O céu obviamente denso, enquanto questiono,
pra que?
A água é viva e minha janela lânguida
Desprovida de uma lembrança presa às saudades
Amadurecida e lúgubre, sem chance de bem querer
Dominada pela chuva, preservando pouco,
geométrica verdade...

Enquanto o mundo sonha ali preso
(sem grandes méritos, nem maiores novidades)
A mansidão ‘introspecta’ do quintal
Encontra-me na imagem omissa do teu rosto
molhado, cínico e carregado dessa
estranha alegria intensa,
Uma contra-mão que me resta à espera...


De ti.

Desafinados



Quase sempre desafinados de garganta


O poeta sofre por não saber cantar


Mas em outro estilo traz ritmo, melodia


no afã de assobiar livremente os versos...



Por isso são tristes e enlanguescidos os livros


Empoeirados, esquecidos e eternos!