31 agosto 2009

Calçadas Doutros Tempos


As calçadas doutros tempos

Guardavam folhas caídas

Do último outono.

Habitavam-se o silêncio sombrio

E uma pesada luz artificial

Advinda da primeira amostra

De eletricidade que rompera a escuridão.



Juras foram quebradas

Aos amores verdadeiros; e novas
Fez-se por amantes

Medrosos e apaixonados.

Porém, dos brancos bancos

Nada restaram... Netos e bisnetos

Escrevem agora a nova geração.



O relógio pára... Mas o tempo

Mostra-se cada vez mais veloz!

As calçadas doutros tempos

Sustentam-se em memórias

Mórbidas.

A mim já basta! O sol renasce

E faz perceber que é chegado

O verão.



Shauara David/Kaliane Araújo

Liberdade e Repugnância

Batia desesperadamente na porta marron e estreita, Paulo acabara de fazer o mais ridículo de seus comentários, poderia ter ficado no mesmo casual, mas a promessa feita de nada esconder um ao outro, já lhe pesara demais a cabeça. Sônia, tranqüila, continuava trancada no banheiro sem nenhuma culpa a lhe pesar a atitude, ao contrário, sentia-se incompreensivelmente triunfante! Ele batia.Ela sorria, indiferente e fria.Algum rancor completava o coração da mulher que apesar de ter traído muito, jamais admitira que não fora amor. Durante muito tempo podiam jurar morte pela vida do outro, e ainda assim a própria morte cegavam neles um desejo infantil de estarem juntos eternamente, era um sentimento insano, de posse e carinho com gosto de séculos passados, como se pudessem ter sido todos os casais apaixonados ao mesmo tempo.Sussurravam juras, fizeram-se promessas e o amor se fez um só, por noites e noites, onde os corpos se fundiam; e com a mesma intensidade, se beijavam loucamente, entrelaçavam as línguas doentes por uma vida tardia, um desejo sem dor. Tic tac...os minutos passavam....Toc Toc....Quase derrubava a porta por desespero de consciência, Paulo precisa questionar que, embora tivesse beijado outra, não havia traído, havia sentido uma repulsa pelo maldito beijo e ao mesmo tempo uma incrível sensação de desprezo pelo próprio ato, como se liberdade e repugnância fossem uma só. Sabia ele, terminaria só; os amigos tentou evitar desde de quando firmou um certo medo por Sônia, desde de quando ela passou a manipular sua instintiva voracidade masculina, as amigas, nem mencionarei! Até sentia falta das segundas intenções que lhe eram proporcionadas nas mesas com estas. Inclusive, mulher é o cão! Como elas podiam perceber o perigo?Sônia tinha o dom de descobrir exatamente quem eram as mulheres que lhe cobiçavam o marido.Embora ele achasse chato, admirava muito essa percepção de sua mulher. Esta, traída, era satisfeita, tinha o seu homem a aclamar-lhe a atenção e ainda sua consciência de beijos cedidos, a outros homens, diminuída. Sentia-se dona da situação.E era. A porta rangia. Ouviam-se gritos loucos de alguém que desejava voltar ao tempo...Porém, Paulo não se arrependia, também era dono da situação e faria tudo novamente se oportunidade tivesse.E fizeram.

14 agosto 2009

Poeira do passado

Escrevi-te na minha solidão
Pra mentir a tristeza
Que não houve paixão, que morreu
O amor.
Trancei-te entre meus dedos
E não vi o cigarro queimar
Junto à fumaça; nossas tralhas
Guardadas na poeira do passado
As toalhas bordadas ainda uso
Uma vez mais roçar no teu corpo
Teu cheiro sujo.
Que abandono no próximo banho
E perfume.
Guardei-te por anos... Hoje os planos
Mudaram
A vitrola não tocou as músicas
Que amaram junto a nós
Permanece no quadro a pintura
Tua
Marcado a texto no branco
Da moldura
O abismo de nossa incerteza
Tua vida boêmia, teus risos estúpidos.

13 agosto 2009

Carta de um suicidada








Fui suicidada pela minha família, por mim mesma, pelo meu signo, pelo meu número. O próprio mundo se modificou com a finalidade de provocar um paradoxo na minha vida: Na medida em que ia aprendendo a amar, fui sendo “expulsa dos grupos comuns” e individualizando uma essência que talvez nem fosse minha. Sou somente uma criatura banal de um projeto infeliz, mas não acho que tenha sido tão ruim assim...Pois embora sinta várias mãos a acalentarem meu desejo, nenhuma delas me empurra de forma que ascenda e acenda um brilho oculto de abismo. Ou seja, não há quem me tenha impulsionado a forca,ou ao veneno, sabe? A própria lucidez trata disso.
A espera é inútil e preguiçosa. O tempo não me alcança, não me convém. Os ouvidos já cansaram de infortúnios alheios, não sou mais eu. Nunca o fui.Pois cabalisticamente fui descrita em versos, incompreensíveis palavras que tentam, ainda que efêmero, o impossível. Abarcam minha infância difundindo risos e lágrimas. Sempre infiel, sempre amando, sempre distraindo, sempre envolvente. Não mais que envolvente.Não mais que envolvente. Um pouco mais mecânico que isso, um tanto mais sobrenatural.
Sou envolvida por isso também, e ainda mais pela frieza que desinteressa em mim.E começo a duvidar da existência da culpa. Se tudo é explicado (ou ao menos uma incessante tentativa) ela nunca será a todos atribuída pela minha morte,inclusive em algumas pessoas que me foram mais fortes na história.Já não agüento mais tudo isso. Todas essas formas de informar, de dá satisfação sobre meu ato, minha dor. Já não sinto dor, ela é me é instalada ao juízo. Fui suicidada por toda essa baboseira, e de tão inútil é a força geral que ainda permaneço viva.

12 agosto 2009

O quarto (e eu)






Meu quarto está escuro. Falhou a luz que há tempos anunciava a velhice. À luz de velas escrevo agora. Com um grito que só silencia porque me convenço que viver é enfim bom. Os olhos ardem junto ao corpo meio sem força e descansado. Não sou personagem, não possuo nome e nem identidade. É sempre melhor ausentar-se das responsabilidades quando não se carrega um nome.
É noite adentro e só vejo meus olhos pesados e livres, que me olham assustados e pedem mais um trago. E trago. Trago ao vivo e sopro simultâneo aos dedos deslizando sobre a tinta que discorre em palavras. Estas que não dizem nada. Aliás, os meus olhos me dizem que tenho medo de mim e por isso me atraio por mim mesma.
Gosto do medo, gosto da atração... Ambos são desafios relativamente fáceis e de gostosa execução. O cachorro brinca querendo chamar atenção, e quase no instante em que o ignoro penso que um dia não o terei por perto. Desapego o caderno e vou dedicar carinho ao que me pede. Em pouco ele está satisfeito e volto ao meu mundo iluminado apenas por uma vela. As sombras que envolvem os móveis ficam mais visíveis. O foco é outro. Não há foco. Não há precisão. Não há futuro e nem passado. O quarto anda amarelado e eu só. O quarto pesado e eu vazia. O quarto grande e eu sem espaço para fugir. O quarto lento e eu agitada por uma náusea inexplicável. O quarto aqui e eu também, sem pensar em longas caminhadas; em barros na sandália e sem vontade de dormir.

04 agosto 2009

Vertigens do último andar







A tua sombra persegue
Mas não anda
Desmancha-se ao menor vestígio
De fidelidade
Perde-se sempre no mesmo caminho
E volta quando cansa; faz seu ninho
Em casa... Falsa felicidade!

Teu corpo não é concreto, não é alma
É mesmo sombra que sobra
Das vertigens e implora a morte
E por sorte te escapa ao trauma
Pois tua sombra é minha marca
Que não maltrata ao saltar do
Último andar
Apenas descansa essa vontade
Que me mata.


Lá pras tantas





A noite ofusca e dorme os outros
A mim confunde falhas
Informa fatos
Embanana palavras
Difunde idéias, trapos, nomes
de carros.
Já não sei quem sou...
Não durmo. Observo
Não ensurdeço. Alerto!
Não canso, mas também não deito
Escrevo.
Sob luz, é claro!
Lá fora... Ouça:
(o silêncio do escuro)
Agora chove;
E permaneço inerte aos latidos
dos cachorros.

A noite bifurca
E meu pouco riso se desfaz em prantos
A
o
s
p
o
u
c
o
s
Roncos que escuto.

Poema Intimista




Um sarcasmo, um band-aid
E um bom cigarro vermelho
Numa mesa de bar; todos
Concordam com o mesmo mundo
Dependendo das circunstâncias
Mudam os planos de percepção.
Um marasmo, uma ferida!
E uma conversa que não chega
a lugar nenhum
Somos todos da mesma opinião
Depende do orgulho, do trauma
E o que salva são os goles
Os porres efêmeros, tudo é o fim!
Não só a globo, não só a TV
E sua decadência;
Mas toda demência que há nos banheiros...
Uma vontade de cuspir, o não fazer
E nas lembranças trago alguém
Que passa o tempo e nunca vem.
Da ausência, um verdadeiro tormento
Um fardo! Um mero momento
Um ato autêntico e só!
Um passo e um vulto
Me vendo.

Assim Seja!





Fiz uma carta de despedida
Raivosa, destemida!
Escrevi horrores, malditas
Palavras
Deixa!
Não foi isso que quis
Mas se o destino
Quer assim,
Que assim seja.

Balé, Passos em Escritos






(Tem coisas que penso
e não escrevo, há outras que nem sei
se penso e acabo escrevendo...)
Como se a escrita me tomasse pela mão
E dissesse: Escreve em versos!
Cochichando em meu ouvido
Fosse conduzindo o poema
Com cautela e compromisso
Esquiando com facilidade
e sem maiores barreiras!
Apenas dançando magicamente
Em outras existências...

Tem tantas coisas... Mas me encolho
Me belisco!
É verdade?!?? Já não arrisco
E me escondo, não percebo...
Mas ela volta e me toma pela mão
Delicadamente contornando sua doçura
Em meus dedos...
Acariciando meus nervos a calma
De uma nova dança.

VESTÍGIOS DE CRIME




Um brega.
Roupas espalhadas
Porta entreaberta
Vinho
Flores...

E o silêncio cansado dos gritos
anteriores.

Poema Contemporâneo






É poema pequeno!
Faz parte da idade
Nova era.
Antes eram folhas e tintas
Hoje basta na mesa
Uma pinga
E já era...
Fez-se um poema.