19 julho 2012
Do que fui serei
Minha velhice tem mania de juventude
e como todas as manias tem efeito inútil
Fui me olvidando de memórias:
Segredos que as pedras da rua contavam
(as pedras tinham pensamentos)
bem me importava com o que sentiam
porque tudo tinha vida,
e fazia todo o sentido;
Mal sabia que a sabedoria estava no passado
falta do que fazer ou vontade de fugir de mim
raspei as sobrancelhas. Foi quando
soube a importância delas.
Outras vezes quis partir,
fiz uma parceria silenciosa
com Deus para concretizar a sublime
sensação de estar em seu colo,
bem como havia sonhado;
Mas Ele nunca me levou ainda...
Então desafiava o mal, com a faca na barriga
uma dramaticidade enraizada na inocência!
Minha idade nunca foi de fato, a mesma
a juventude tem cadência de velhice
catedráticos vinte e cinco anos em
busca de aventura e sossego
ainda me desassossego por paixões,
só me sinto presa quando a loucura
esquece de me permitir sua presença
me escondo em livros para embalsamar
a nostalgia do que fui (é saber como serei)
A solidão é uma escolha de mil companhias.
Pedra do infinito
Caminhava pela praia sozinha
ao encontro do mar
pra desmedir segredos.
Se a busca racionaliza, e a racionalização
afasta
como podia conter minha sanidade?
não fiquei sem respostas
uma pequena e branca pedra me encontrou
tão logo a sentia em meus dedos
seu infinito.
Percebi que era você, macio
(como as nuvens dispersas)
os cabelos desgrenhados
barba mais cumprida
e um gênio sagaz
compatível com o meu;
Irônicos.
Me perguntaste o que era “o nada”
O nada é aquela palavra
que não pede questionamentos
mas como você inverte os interesses
completo: nada se faz tudo quando somos sós
nesses momentos raros,
infinitos.
03 julho 2012
O diluir dos anos
É sono ou o quarto tornou-se bolas azuis
frenéticas , espelhadas
dançando farpas e beijos?
Pensei que era festa
quando tive meu primeiro cartão de crédito
mas as luzes apagam antes do amanhecer
Ainda me chamam moça
invertebralmente aqui dentro
fios e cacos cortantes
Inútil enganar meus companheiros invisíveis;
Somos sós.
Quando custo a crer nos mil
anos em que nasci.
Só peço quando estiver deitada na cama de madeira
por favor, não me cubram os pés
formalizar despedidas é agonizante
Ri em mim lembranças da infância irretocável
torno-me como elas, as crianças
atemporais, inteiras, entregues
doídas.
Com os pés desnudos, imundos de brancura.
Interesse
Não vivo mais perdida porque
aqui, nesse mundo meio morto
encontrei
desmedida
deslumbrada e
confortavelmente apropriada
uma rotina revestida de novas experiências
parisienses transeuntes
aéreos, horizontais. Ouro e chama
acima de tudo
transcender a chuva.
Não vivo mais aqui
meu pequeno cômodo de letras permite
as mil e uma companhias
-imagine só caro leitor-
em cem lampejos de solidão.
Noticias surreais
- as quais realmente interessam-
Velejam embargadas nessa lucidez
maltrapilha
sem chão.
Vitrais
Não entenda
tão plasticamente
olhos de vidro;
Torna-se também genérico
desviar o comum
facas amoladas
alojadas na minha língua
regam flores
A noite espreita impaciente
mas só agora,apenas nessa fase
de desordem
pesando dúvidas
debulhando noites mal dormidas
malevolente;
não se arme de perigo
me destranque os muros
pois teus escudos
são todos de vidro.
Sylvia Plath
Um sonho azul de faísca
retido na madrugada
alguém, em outra história,
ferida da morte de si mesma
Alguém; Comportadamente esquizofrênica
Alcança as primeiras luas
Isso não basta!
Uma taça sem brinde, poema
Pega a folha, anota, abre aspas
sem reticências, joia rara
feita de papel e nuvem
e mais uma besteira.
Não foi acidente
morrer é uma arte,
três décadas aniquiladas, uma a uma
na excepcional vocação de nunca
mais querer voltar...
Não há jeito;
O teu sono, Sylvia, atravessa séculos.
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