A nau traga junto ao leito dos abandonos
Seus vícios insanos, as tarjas de pranto
Alimentam os mares e por um engano qualquer
Trafegam à segurança da loucura e do tédio.
Creio que entrará alguém pela porta perdida
(Trazendo um candelabro pomposo, relíquia arruinada pelo novo)
E então, chorará pelo tempo perdido;
Engolido pelos leões e outros signos
Cravando em Pessoa suas tantas outras pessoas...
Soam passos! Ouço gritos e o relógio avisa:
A vida não deixa sobra e sobra tempo
Exilado em fatos inconstantes e confusos, como sou agora
A transitar pelos portos, pelos leitos das infinitas verdades
Tudo está em ruínas e os palácios sumiram
Talvez nem tenham existido. Como as cidades;
Ruídos da inquietude, da ganância inata
Somos sós, nas horas das horas das horas das horas...
Quem sabe se no fundo da caverna não há abrigo?
Quase intacto pela dizimação externa
Voam pernas apressadas, sem chão inteiro
Contentam-se em mostrar que ao menos entendem
Que estão a salvo, por um momento inseguro.
Precisamos dessa filosofia, embora seja inútil o pensamento
Vago e distante como ilhas e desertos
Fico deserta e sigo fingindo medos, atrasando desencontros
Mas no momento preciso dou um giro
A árvore cai, cai a chuva vertical e o vaga lume ilumina
Cá dentro, só descanso de uma longa caminhada...
O desespero só ensurdece e cega, nega a si a próxima etapa
Um corpo entorpece e desmorona
Quem se importa que nesta escura multidão
Uma estrela esteja morta e ainda brilhe?
Exibe a confirmação: loucura e lucidez são a mesma
Terna certeza simulada pelo inverso...
Agora peço que enriqueça a alma, aturdida e
Tão inabstrata quanto à sétima empatia dos que se atraem,
O que explicaria os céus a um ser inofensivo?
Que as pedras não passam de objetos naturais
E os pássaros obras ainda mais divinas?
Quanto ao homem foram inventadas as horas...
Dentro do fruto proibido, desde então
Rachamos o espelho, numa manhã estranha
E vivemos claustrofóbicos, sem saber de nós.
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