06 fevereiro 2012

Caminhos íngremes





Uma vez estive aqui e falava com você.
volto então, mas sem ouvir minha voz
apenas a tua, de tudo que reservou a memória
em insistir em me estranhar o escudo
não é mais a dor chorosa, indignada
é um sentimento tão bobo que
quase me arranca um desnutrido
riso no canto da boca.

Não há mais força para esforços
aceito caladamente as noticias de desordens
é fácil constranger a vida;
o amor arrancado de seus braços,
em pleno sábado
destroçado irreversivelmente
basta-lhe isso e o calor
que derrete minha pouca vontade de viver;
porque a vida é inutilmente formada dos latidos
que não protegem a rua de suas casas.

- Bom dia senhora, posso sentar aqui
para despensar um pouco?
já é o terceiro lugar que assento
os anseios cansados de punir
e algo convida a não me apegar
afinal, as coisas têm os mesmos nomes
enquanto me preocupo em desnomea-lás
porque liberdade é o que se quer ser!
Quando tudo isso se reverter, em chamas
Talvez, eu possa entender que cada lugar
tinha seu momento,
um instantezinho para provar
que não é conveniente haver o infinito.

É estranho viver só, mas faz
mais sentido.
Três poodles pretos e presos se entreolham:
o da frente com os pelos grudados,
meio estrábico, o outro desbotado
acinzentado pela idade, e o meu,
amarrado pela coleira pede para ir embora.
Não posso ir agora que o sol abriu brechas
entre nuvens de fumaça.
Claro que depois disso, tudo há
de ser mais interessante (?)

Ainda bem que as plantas não se incomodam
deveríamos aprender a extrair não só os sucos
mas a firmeza e fragilidade distribuídas
elegantemente nas mesmas proporções:
rompem o chão lhes impondo certa
autoridade e respeito pela coragem
de o ser, enquanto os galhos
- denotam o descanso suspenso-
balançam tranqüilos de forma que geram sombra
som e por mais que pareça o contrário,
promovem vento.

Caminhos íngremes formado de pedras
e ação dos pés, mais do mesmo
pintam-se as casas bonitas para esgar
diante novas flores. Por isso transgrido;
longe das superficialidades emocionais
de seguirmos netos. Percebo a linearidade
dos anos, que apenas passam
por que os primos crescem.

Do contrário não haveria tiros no escuro
os laços não romperiam de ausência
e os castos seriam vangloriados todo mês.
De perto, parecemos ainda mais burros
sem sustos de declinar à risca das
condutas impostas, regras e leis maciças
movem-nos apertadamente em vigilância
de forma que o desejo seja também a culpa
e a autenticidade o maior dos males,

Bem verdade que a transparência mata,
os invejosos que o digam, o brilho é justo
o empoeirado embora silenciosamente polido
os outros se apropriam de migalhas, embora só
biquem efetivamente no chão
enquanto versejo para sublinhar os céus.

Meus olhos comovidos de asas inválidas
desmentem lágrimas...
O despedir é novo, incompetente, sagaz
esmorecido mais da alegria espontaneamente
não repetida, que da ilusão provocada pela mesma.
O amor é um sutil soprar de carícias
Um eu revestido de luto a incorporar outras cores,
branco talvez mais pertinente. Reverdeço
sem avaliar o peso de tal constatação.

Como se torna triste toda
e qualquer alegria! Ainda que prefira
uma solidão pautada nas lembranças simples
de sorrisos fáceis, que a débil
saudade desplanejada duma noite feliz.
(Será que se esgota a noite feliz?)
Não devo discordar que os cursos não
sigam normais;

É covardia escrever
enclausurada nessa caverna de letras
esperando que a solidão lhe tome à mãe
num baile inocente,
beirando precipício.

3 comentários:

  1. Um dia quando for grande quero escrever como você...rs...M A R A V I L H O S A ....

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  2. "Os outros se apropriam de migalhas, embora só
    biquem efetivamente no chão
    enquanto versejo para sublinhar os céus." Imagina como estas palavras são bem profundas e sofredoras. Um despertar psicológico há nesta jovem escritora. Que pena que os intelectuais brasileiros são, em sua maioria uma bosta, e não sabem, ou fingem não saber, da magnitude de Shauara e outros tantos poetas perdidos que tem qualidades artísticas fenomenais. Aqui é um poema serio sem sentimentos e banalidades do cotidiano. É um poema vivo que tem pernas e braços e anda em meio a o devaneio de uma sociedade que cresce em dinheiro, mas caminha íngrime em uma cultura cambaliante onde poucos são os grandes... "(...) Os outros se apropriam de migalhas (...)" É UM POEMA QUE REFLETE O MOMENTO DESTE PAÍS.

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