24 fevereiro 2012

Poetizar




Um Manoel de Barros me honra o deleite
ao lado de minha perna esquerda
descansa atento meu cão.
de quando em vez passam carros
para desmistificar minha solidão.
Aqui tudo é avesso de vento, motores
e buzinas distantes;
casas madrugam à entrega inquieta
a cada novos abrigados
a rua me reconhece sem remorso
mas com a possível nostalgia
do que ali não habitamos, mas sabemos
sentimos imemorialmente o contrário.

A poesia me é palpável no espelhamento da leitura
porque sou humanamente limitada
corrompem minha leitura conversas
submersas dos mundos alheios
Sinto assim porque pego as minhas chaves
e sigo a saudade transcender o material.
enquanto concentram-se em olhos caninos
silêncios audíveis do bairro mal estrelado
bem recuado, triste;

Porque poetizar é expor silêncios
Ver ruir os tijolos empilhados da evolução.

16 fevereiro 2012

Pétalas ao vento




Uma pétala se desvencilha de seu
encanto em minhas mãos.
No interior amarelado é possível
entender das paixões, embora tantas,
não há motivo que culmine traição
pois se permitir vivê-las é como versejar:
Expor silêncios para aliviar o nada
um tropeço onde se desconstrói o amor.

Ah! Nosso amor de incensos, areia e pedras
Tanto mais repele a sensatez das mágoas
inevitáveis, aumenta necessário o desejo
(ainda que absurdo) revestido de consciência
à entrega de dúvidas e distâncias...

Do branco do jasmim apenas a proeza
inútil dos cheiros agradáveis, quem sabe;
soprar em fim de tarde as mentiras dos livros
engolidos por nós, embaixo de árvores frondosas,
testemunhas cruéis de que a maciez
do tato seja também o doce inferno
de caminhar o amanhã incontestavelmente solitário
embora não desprovido de ternura.

Não precisam nos explicar à noite,
é canção jogar idéias sem desferir palavras
Não nos indaguem sobre a paz,
é caos como tais tormentos nos
deixam mais leve a tatear no céu.
Apenas nos embriague a natureza com a calma
pueril de conformar o entendimento.

Pois não é preciso entender o
irresistivelmente inusitado,
nem questionar a verdade de um falso
arco-íris palpável;

Já que o amor se torna flor. E retorna vento.

06 fevereiro 2012

Caminhos íngremes





Uma vez estive aqui e falava com você.
volto então, mas sem ouvir minha voz
apenas a tua, de tudo que reservou a memória
em insistir em me estranhar o escudo
não é mais a dor chorosa, indignada
é um sentimento tão bobo que
quase me arranca um desnutrido
riso no canto da boca.

Não há mais força para esforços
aceito caladamente as noticias de desordens
é fácil constranger a vida;
o amor arrancado de seus braços,
em pleno sábado
destroçado irreversivelmente
basta-lhe isso e o calor
que derrete minha pouca vontade de viver;
porque a vida é inutilmente formada dos latidos
que não protegem a rua de suas casas.

- Bom dia senhora, posso sentar aqui
para despensar um pouco?
já é o terceiro lugar que assento
os anseios cansados de punir
e algo convida a não me apegar
afinal, as coisas têm os mesmos nomes
enquanto me preocupo em desnomea-lás
porque liberdade é o que se quer ser!
Quando tudo isso se reverter, em chamas
Talvez, eu possa entender que cada lugar
tinha seu momento,
um instantezinho para provar
que não é conveniente haver o infinito.

É estranho viver só, mas faz
mais sentido.
Três poodles pretos e presos se entreolham:
o da frente com os pelos grudados,
meio estrábico, o outro desbotado
acinzentado pela idade, e o meu,
amarrado pela coleira pede para ir embora.
Não posso ir agora que o sol abriu brechas
entre nuvens de fumaça.
Claro que depois disso, tudo há
de ser mais interessante (?)

Ainda bem que as plantas não se incomodam
deveríamos aprender a extrair não só os sucos
mas a firmeza e fragilidade distribuídas
elegantemente nas mesmas proporções:
rompem o chão lhes impondo certa
autoridade e respeito pela coragem
de o ser, enquanto os galhos
- denotam o descanso suspenso-
balançam tranqüilos de forma que geram sombra
som e por mais que pareça o contrário,
promovem vento.

Caminhos íngremes formado de pedras
e ação dos pés, mais do mesmo
pintam-se as casas bonitas para esgar
diante novas flores. Por isso transgrido;
longe das superficialidades emocionais
de seguirmos netos. Percebo a linearidade
dos anos, que apenas passam
por que os primos crescem.

Do contrário não haveria tiros no escuro
os laços não romperiam de ausência
e os castos seriam vangloriados todo mês.
De perto, parecemos ainda mais burros
sem sustos de declinar à risca das
condutas impostas, regras e leis maciças
movem-nos apertadamente em vigilância
de forma que o desejo seja também a culpa
e a autenticidade o maior dos males,

Bem verdade que a transparência mata,
os invejosos que o digam, o brilho é justo
o empoeirado embora silenciosamente polido
os outros se apropriam de migalhas, embora só
biquem efetivamente no chão
enquanto versejo para sublinhar os céus.

Meus olhos comovidos de asas inválidas
desmentem lágrimas...
O despedir é novo, incompetente, sagaz
esmorecido mais da alegria espontaneamente
não repetida, que da ilusão provocada pela mesma.
O amor é um sutil soprar de carícias
Um eu revestido de luto a incorporar outras cores,
branco talvez mais pertinente. Reverdeço
sem avaliar o peso de tal constatação.

Como se torna triste toda
e qualquer alegria! Ainda que prefira
uma solidão pautada nas lembranças simples
de sorrisos fáceis, que a débil
saudade desplanejada duma noite feliz.
(Será que se esgota a noite feliz?)
Não devo discordar que os cursos não
sigam normais;

É covardia escrever
enclausurada nessa caverna de letras
esperando que a solidão lhe tome à mãe
num baile inocente,
beirando precipício.

03 fevereiro 2012

Imprevisível




Conversas clichês me animam
incomodamente ;
Papos cabeça me entediam
o refinamento.
Como se o chato mesmo fosse encarar
convicção nos olhos febris
infelizmente enganados
pela verdade absoluta.

Assustada sob vozes chorosas
e mesquinhas, mas ao mesmo tempo
sozinhas e desafiadoras
tornando-se em próprias falésias
o tempo erguido por sobre seus ombros
arquejando
meio imbecil ou alheio
à procura de felicidade
tanto que se traem os destinos
para o futuro não ser além que outro olhar
daquele velho instante
obtuso, sonolento.

Tudo derretido e transformado no brilho
que deslumbra a retina
Emocionadíssima pelas veredas
de o ser, menos que pela doçura
da dor colecionada.

02 fevereiro 2012

Compatibilidades




gatos, galos, sapos e primos
todos compõe uma certa noção
de equilíbrio e espaço.

Gatos cuidam das ruas
Galos cuidam dos pratos
Sapos assustam mulheres normais,
(além do desprezo na semana 22)
E os primos; esses convergem
nas datas marcadas de poucos eventos
e alguma compaixão.

Quando não, dormem silenciosamente
sobre os grãos castigados da renúncia
beirando à ancestralidade
como deve forçosamente ser;
intentar a moral.

Todo esse refluxo natural avisa:
As lagoas mais lindas também morrem
afogadas com a própria beleza.

Tédio




Existe uma inquietude

severamente controlada

vira e volta, pára e mexe

como se um galinheiro cheio

procurasse descansar as penas

da prisão que são condicionados

e os condena.