A Nietzsche
“ Somente a arte
pode transfigurar a desordem do mundo em beleza e fazer aceitável o que há de
terrível na vida”
O eterno retorno do mesmo é teu,
nasceste póstumo para fragilizar as certezas
e ainda indagamos pra que, Nietzsche?
teus olhos me assaltam quando distraída
vejo duas bolas imensas, submersas
na brancura infantil entre as pálpebras
como negras ilhas gêmeas
desarmadamente preparadas
e ainda equipada de um fatalismo paradoxal
Ah, Wagner! Como queria pronunciar
alto teu nome! quem incitou essa vontade
nos diria tão bem como tudo é nada
e o vice versa a música resplandece
nas veredas do amor;
Com nós não, foi a poesia que nos encarnou
Quem sabe, Wagner, apaixonamo-nos
por vício, egoísmo ou procura,
talvez até desejo e incerteza
percebes a malícia perfeitamente
cruel de sua boa escrita, Nietzsche?
Quiseste matar a tua dor, ao
contrário,
eternizaste-a de boca em boca,
permeando
quase todos graus de cultura e
até asneiras
teu nome estático, difícil,
malhado
Quem há de nos defender? Formamos um trio
desconhecido, distantes de datas, corpos
e línguas. Ninguém há de tomar nossas dores
mas embebedam-se delas, a procurar
preencher um vazio que só aumenta.