30 abril 2010

ANTI-NIILISMO






Perdoa se o que sinto é insano
E escolta essa agonia noutros planos
Percorrendo os mais íntimos segredos
Pelo corredor de um novo sol
Um tempo estancado em espelhos
Futuros consumados assaltos, desejos.

Perdoa se o que penso é ingrato
Desmotivado pela clausura do sistema
Se me ocupo no anti-niilismo de
um novo poema
E ainda teimo por problemas comuns;
Sem concluir um passo, e também sem voltar atrás.
Sem transformar e sem me importar demais
E ser apenas o que acho.

Perdoa se amo, acanho e converto em sarcasmo
Os tempos nunca são os mesmos
Ainda se sente igualmente surpresos
Os temas de revolução, documentários...
Perdoa se sofro pelos animais solitários
E ao homem meu belo mérito de desprezo!

Perdoa se lustro, espirro e depois esqueço
Não mexo um dedo pra aliviar o espírito
Por isso sangro, me perco
E me contento em não encontrar um risco
De suavidade vento, doloroso e falso abrigo;

E assim sigo perdoado, calmo, inexpressivo.

Há uma gota de sangue em cada poema





Assim como há resquício de barro
Nas estradas asfaltadas
E ruínas pelo impacto das guerras
e catástrofes
Há em cada poema uma lágrima;

Assim como ecoa aplausos e vaias
Da grande semana! Onde sobra
Pedaços mastigados na antropofagia
Mário não desperdiçaria uma idéia
Sem que esfacelasse fontes, rituais e oferendas.

Há uma gota de suor em cada letra
E em cada verso um gozo de dor
Por que sempre a dor do poeta?
Simples... É exatamente aí que sucumbi
As mágoas de exprimir pelo dom;
E despedir a força vital paulatinamente...

Mas há de deixar cada poeta, em cada página seca
A ata boêmia, idéia difusa e
sua vida latente!

03 abril 2010

Impressionante Oficio






Impressionante que as coisas acontecem
Independente dos meus óculos,
Principalmente independentes de mim.
Estou cada vez mais convencida de que
Os pães não fazem além que seu oficio,
E os passos tropeçam a cada garfe.
Porém tudo segue forçosamente
Como um rio que não tem pra onde ir
A não ser o próprio caminho que lhe foi proposto.
Mesmo que mude seu posto
Demoraria anos, e depois
Os dias que murcham, desabrocham...


Impressionante os sinos que ainda tocam
Carregados de um peso invisível, tempo:
A singularidade dos mortos, os vivos do ócio.
Os discos não cabem na vitrola
E as teias crescem sob o teto
Expandindo um espaço suspenso,
Um mundo grande, um ser solitário. Impressionante!


Separa-se um momento pra dormir,
O restante pra produzir e corre quem não sabe aonde ir
Pra isso meu melhor oficio: um tema mal focado,
Embaraçado, se bem verdade!
Os dedos já estão borrados
desses casos antigos.
É tarde para desvincular, os trilhos enferrujam
Mas não abandonam o velho rito;
Barulhento, lento. Múltiplos caminhos.