27 agosto 2010

Segredo dos mortos




O segredo permanece no silêncio dos mortos
Como uma estanha confissão dos ventos
Onde as folhas caem belamente
Exalando uma paz reflexiva de outonos
Formando um piso marrom
- putrefato e rico
do que foi vivo, aflorado
por tantos outros passados, reféns de histórias
Estas, bem guardadas no cimento e cal
Bem arado num novo quintal de flores...

E é lá de baixo que eles respondem:
“morrer não dói”
Aprisiona na lembrança nostálgica dos que continuam,
Inutilmente tapando as dores,
Se recompondo em outros nomes;
De que forma mesmo podem se mover?
Afogados no medo do próximo passo?
Em descompasso ao depois, e depois?
A primavera deve responder...

Com suas diversificadas flores
Enquanto à noite vivem sozinhas a beleza
da fase, tão atrelada à solidão
E dona de uma incrível subjetividade,
mas nada podem revelar!

O segredo permanece no silêncio torto...
Enquanto os ‘sopros’ tratam de avivar
a confissão dos mortos, lentos e ávidos
de cova , terra e como se não bastasse,
Incertos em suas capacidades de resistência.

Barulhos do silêncio





Acaso sustento a contemplação histérica
da densidade dos sons que a noite vêm
Quando todos dormem (em decrepitude)
Apenas eu me desconcentro,

Há no centro do problema uma questão:
Será trovão? Terremoto? Seres mortos?
Penso que seja pré-concebimento
Vindos dos ventos ou uma alucinação!

Mas pra abrandar meu tormento; o costume
E pra provar a fraqueza; o medo
Chegando... se esquivando... falando manso
Baixinho, sem pressa
Tumultuando meu canto calado
Desafinado e sem sentimento.

Acredite! É no silencio que se faz aurora
Quando os sons se chocam em “ big ben”
Anunciado ao sino a dolência dos que choram sob trevas
Que hão de buscar nos silêncios noturnos
Os barulhos companheiros da solidão...

Fotografia da Alma




Às vezes o poema vem pronto
como no sonho,
enlatado.
fácil e gostoso.
Outras, um caminho pedregoso a ser percorrido
enfadonho;
dias a fio de lapidação, um fardo!

Existem os versos abortados
...morrem sem nascer,
Sem a dor da perda, mas com a tristeza
de uma alegria que passou batida,
Da conhecida lembrança “como seria”
e uma adivinhação geralmente positiva.

Pra todos os feitos o poema é vivo
É filho do dom e da ‘insolução’
“fotografia da alma”
Embora desprovido de vitalidade, possui outros sentidos...

Gozo. Mentira. Filhos de outros filhos...
Ousadias da percepção!

Que coisa, não?!



Tudo é uma ilusão

Exceto os pseudofrutos,

Que embora não se originem do ovário da flor

Tem o mesmo efeito, sabor, vitalidade.


Como a pêra, a maça, o morango...

Contemplam a beleza das formas, das cores...


Tudo é uma ilusão
Exceto os desenganos e as dores.