28 abril 2014

A profundidade da palavra




As palavras, como os objetos, são encontrados
nos lugares mais inapropriados.

Como a profundidade da palavra,
se uma andorinha voando no céu
não compõe o poema?

Dissipa na magnitude do voo.

Assim como o beija-flor parado
em seu delicado bater de asas
não compõe o poema;

escorre na fragilidade da beleza.

As explosões do astro rei; o contínuo
acordo entre as luas e as marés,
a sofisticadíssima tecnologia das plantas;

nada disso compõe o poema.

A poesia é a voz que narra o instinto
e vai compondo a fotografia.

Disseram-me que as palavras não têm vida,
mas sei que são recicláveis:

Nada é estático, tudo se resignifica.